Tem dias que a saudade chega como a brisa do mar. Toca o rosto, faz carinho. Chega a ser dengo. É gostosa e nos faz sorrir com o coração leve, ainda que apertado de um jeito delicado. Nesses dias, a dor é inexistente. Sobra gratidão pelo que se vive.
Noutros, porém, saudade é uma porrada no meio dos córneos. São as duas mãos no peito e um empurrão sem cerimônia alguma. É pra te derrubar mesmo. É pior que a pior das cachaças e bruta feito coice de mula, que acerta em cheio e tira todo o ar do sujeito.
E pior ainda é quando essa saudade vem acompanhada de um fogo inexplicável. Ou melhor, entendível de só ser passível de arrefecimento quando a pele encosta, quando o beijo explode, quando as mãos encontram seus caminhos naturais pelo corpo de quem se deseja, se quer e pede.
Nesses dias, saudade é tormento. É quase desgraça. É incêndio que não se vê, mas se sente. Banho frio não apaga, só deixa a água quente. Resolver sozinho não contenta, só aumenta a solidão de repente. Nesses dias, só o suor do corpo com corpo dá jeito no fogo.
Ainda assim, mesmo que enlouquecendo, qualquer um concorda que é melhor sentir essa saudade que aquela em que nada dá pé ou jeito. Aquela que transforma qualquer peito em terreno árido, infértil. Sem esperança. É saudade levada como fardo pelos que deixaram secar um grande amor.
E que quando brota comprova que saudade não mata, mas nos faz morrer um pouquinho mais depressa a cada dia.
[ Gustavo Lacombe ]
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