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Eu me Rendo
Não faça caras e bocas porque eu sei os motivos que você as usa. Vem com esse jeito manso, falando baixinho e, quando dou conta de mim, já estou pedindo involuntariamente “usa e me abusa”. Acha que esse par de pernas de fora e um sorriso enlaçante serão suficientes para amarrar meu coração desconfiante? Acha que é fácil chegar só com carinho, agradando meus ouvidos e levando o que quer?
Se você acha que sim, eu me rendo. É assim mesmo que é.
Achei até que não era comigo. Não sei de onde eu tirei essa sorte de você bater olho e querer descobrir quem era aquele menino. É claro que eu já te notava, já ensaiava palavras, mas nada demais. Lembro da ligação, de ficar mudo e não ficar mais em paz. Duplo sentido nas suas orações, e eu nas minhas só pedindo haver uma saída. Algum caminho que não me fizesse presa tão abatida.
Cerco apertado, corda no pescoço. Fico olhando pro lado só pra tentar disfarçar o nervoso. Quem para e segura uma mulher quando vem decidida, quando sabe o que quer? Quem fica na frente quando ela vem quente e, dura na queda, não desiste se ouve um “não”? Coração bandido, ou mata o desejo ou morre num beijo, mas é sempre certeiro o tiro.
Já pressinto o afogamento por beijos molhados e o asfixiamento por abraços apertados. Já sei que todas as armas estão sendo usadas. Você brota na minha na frente, mais uma vez, toda arrumada. Cadê minha fala, pelo amor de Deus!? Dissimulada, faz de conta que não tá fazendo nada. Ainda tem a maldade de perguntar “o que é que eu fiz?”.
Quer saber?, faça o que quiser eu me rendo, mas me faça feliz.
(Gustavo Lacombe)
A Seleção
E aê, Galera!
Tudo bem?
Agora a parada ficou séria! 😉
Preciso saber quem realmente vai querer a “Seleção”. Sim, é com esse singelo nome que batizei esse livro/apostila.
Mais detalhes? Manda um e-mail pra mim:
lacombegus@gmail.com
obs1.: lembrando que a Seleção está longe de ser um livro. É apenas uma seleção – como o nome bem diz – de textos, ideias e poesias que eu mais gosto.
obs2.: se você se lembra de alguma publicação que NÃO PODE FALTAR, comenta aí embaixo. Ainda dá tempo.
Mais Velho Novo Anjo
O fim pode ser apenas a metade do caminho. Pode ser uma hora em que se fica sozinho, por alguns minutos – aguenta – que vão valer a espera. Pode ser belo, se acompanhado de alguma esperança que o próximo começo é bom. Depende de como você enxerga. E se ainda respira, ainda pensa. Assim é comigo. O ar que embaça as lentes num dia frio é o mesmo que dentro de mim traz seu cheiro, numa mentira de me fazer acreditar que o seu perfume está perto. É só alguém que roubou o vidro e me engana. Tua palavra que ainda ressoa, tua história que ainda é junta, minha luta que ainda sua e a ausência. Vai entender o porquê de eu ainda lembrar… Deve ser o que eu não admitia, mas enquanto houver você do outro lado, eu me oriento. Nem que seja para ficar longe. Nem que seja para ainda deixar de acreditar que mexe.
Ridículo.
A fé que eu depositei em mim foi suficiente. Tanto é que tive resposta pra tudo que perguntei. O problema foram as que vieram à reboque. E ainda respiro. O dia me mente que passou. Passou nada. Já é o próximo, mas a dor é a de ontem. A de agora. A dor que passa, mas ainda vai incomodar. Dorme, criança. Vai ser melhor. Tua sinceridade fez escola em mim – e um rombo na alma também. Tão mais fácil pular as partes chatas do livro, da vida, do filme, né? Ficar com o que é bom e não gasta muito da gente. Nem exige. Ainda respiro. A cena repete. Levanto, café, vou, pisco, janta, cama. A cena inverte. Cama, café, levanto, janta, pisco, vou. E a razão de ser alguém está tão longe. E me lembro de você. Ainda. Sem querer, querendo, podendo, morrendo, mordendo, sendo, roendo, vivendo. Mas não era o fim? Por que ainda tem tanto da gente aqui? Era brincadeirinha. É só uma etapa do processo.
Ridículo.
Novo anjo da minha vida, mas que parece me conhecer há tanto tempo. Só enquanto souber respirar vou lembrar do que é pra mim. Você é tudo isso. Sem mais. Sem menos. Exatamente a poesia. Exatamente a força. Exatamente enquanto eu respirar.
( Gustavo Lacombe )
Fechou o Tempo.
Fechou o tempo. Nuvens vermelhas carregadas de coraçõeszinhos se aproximam da sua vida e, no trajeto pra casa, você tem certeza que vai procurar as marquises dos prédios e os toldos das lojas e estabelecimentos que te ofereçam segurança para realizar todo o percurso sem se molhar. O guarda-chuva na bolsa, pronto para água, sabe que não vai poder fazer muita coisa se um daqueles artefatos atingi-lo. Será queda na certa, rumo a um caminho já conhecido e, por isso, bastante temido por todos que se vêem na iminência de se banharem com as gostas do amor.
Encostada com a cabeça na janela, a preocupação escorre junto com um pingo que o vento trouxe. Você suspira aliviada. Era só um ar-condicionado. Volta suas atenções para o trabalho, mas não consegue encontrar concentração. O celular vibra, distrai e carrega ainda mais o nebuloso céu lá fora. Já já começam os trovões. Por quê, meu Deus?, você se pergunta. Por que logo agora que a vida com S de solteira estava tão gostosa, uma tempestade dessa se arma sobre a minha cabeça? Não entenda. Nem culpe ninguém. Você ainda deu sorte de perceber que está nessa situação. Pior quem é pego de surpresa e, quando vê, está empapado disso.
Alguém passa por perto, te dá um tapinha nas costas e pergunta se está na Lua. Imagina, você responde. Na Lua não, mas em outro endereço que não aquele. Fato. A cada piscar de olhos você refaz o caminho até onde a chuva já cai torrencial. Consulta a meteorologia e lá diz 100% de chance de se apaixonar. Não vai ter jeito, você pensa. O corpo, já tão acostumado a se negar alguns pedidos como esse, tenta de novo resistir. Logo agora, repete. Não ter compromisso, hora ou dar explicações estava tão bom, tão confortável. Vão me tirar da zona de conforto por causa de um beijo bem dado, uma mão que sabe apertar e uma pessoa que sabe o que fazer pra mexer comigo? Só por causa disso? Sorte sua ele te saber fazer sorrir. Tem vezes que nos pegamos gostando de alguém que nem ao menos sabe da nossa existência. Você está no lucro.
Seis horas. O chefe pergunta se a saída se aproxima e, com certo desânimo, diz que sim. O pior não é estar nessa situação de novo. O que incomoda é ter passado por tanta coisa e agora ter que conviver com os fantasmas do passado que não deu certo. São só velhas teias num coração que não queria admitir que ainda era possível sentir algo assim. Recolhe as coisas, joga na bolsa, segura a chave de casa e dá uma última olhada para ver se acha um guarda-chuva perdido por ali. O céu não anunciava tamanho dilúvio para aquele horário. Quem está na chuva, definitivamente, é pra se molhar.
O primeiro pingo a bater não fez tanto efeito. Então era só isso? Andou sem pressa. Ao sair do prédio achava que teria que sair correndo. Besteira. Nem se preocupou quando viu que não tinha perigo. O pior mesmo era se apertasse. E não tardou. No meio do caminho, um sms e um trovão tocaram ao mesmo tempo. Pegou o celular e já sabia o que aconteceria. Leu a mensagem, ficou sabendo da saudade que batia do lado de lá e, de uma vez sentiu o corpo inteiro se afogar. Não havia volta, só direção rumo a trilha que não pensava em seguir tão cedo.
Só que não tem isso de querer prever. Se apaixonar é não ter tempo, e nem ao menos saber. É ser pego de surpresa mesmo, sem guarda-chuva, capa ou um casaquinho para pôr na cabeça. E vem reto, direto, certo. Entraria pela casa fazendo bagunça, deixando tudo espalhado depois da confusão na rua, mas não tinha como. Era a paixão que entrava na vida. Chuva sem guarida.
( Gustavo Lacombe )
Da varanda eu p…
Da varanda eu posso ver a rua. Fecho a cortina para que aqui dentro fiquemos a sós. Não queremos ninguém vigiando. Mais duas portas cerradas e agora somos, literalmente, dois amantes entre quatro paredes. Debaixo da coberta, você faz charminho pra mim. Logo se vira, encara meu rosto e me beija. Mal sabe o que eu passei pra tê-lo. Para tê-la. Só começando nosso dia, mas a recompensa já me chega. É a tua boca na minha, minha pele na tua. É a vontade, nua e escancarada, que o amor nos faz vestir. Sabe-se lá que horas acaba – a gente não marca -, mas começou faz tempo. Num sonho perdido ou numa dessas madrugadas, eu já imaginava a cena, já planejava invadir o teu mundo e não sair por mais nada.
(G. Lacombe)
Modo de escrita
Sento em frente ao computador e vomito uma idéia. Eu gosto dessas assim, que saem inteiras de mim e nem ao menos pedem passagem pelo filtro das palavras. São essas aí mesmo, bonitas ou frias, cruas ou com erros, mas que preenchem o papel na melhor forma possível, com peso e vontade.
Difere da vida. Vivida de uma vez, como um poema que já tem todos os versos escritos no pensamento e apenas são transcritos para o papel, perde-se o gostinho de aproveitar cada momento dela. E pode achar estranho eu fazer minha caminhada com palavras que gosto de soltar sem medo, mas viver sem o mesmo acelerador.
Não é medo de arriscar, que fique claro.
De um modo geral, fico ansioso quando escrevo. Se tenho uma boa sacada, fico com receio de ter sido a última. Então, a agarro e vorazmente me aproveito dela. Calma, diria minha professora de literatura. Existem textos que pedem para serem jogados na gaveta.
Esquecidos? Talvez.
Frutos muito verdes precisam de maturação.
E que não me julguem. Eu adoro uma contradição. Tanto que, posso citar algumas coisas que escrevi e que só melhoraram depois de um segundo olhar, um tempo para crescerem e serem mais do que uma tinta jogada na tela à la Pollock. Porém, é divertido parir um escrito de vez. Os deslizes no português são a prova de que estava empolgado.
Do tanto de tesão que estava em fazê-lo.
Quando me empolgo na vida, acabo comentendo alguns errinhos assim também. E quem não comete equívocos por falta de atenção decorrente de uma excitação? Você não? Que sem graça.
Erra, cara! Aquele pequeno, perdoável, como um ‘s’ esquecido no plural de uma palavra grande em que se culpa o teclado. Ou uma palavra esquecida, mas que não compremete o entendimento. A vida é errar e aprender. Com desejo, claro, de sempre poder ter mais.
Teu melhor texto é tua própria história. Aí, sim, não a escreva de vez.
Estranho conselho se comparado ao que eu disse sobre meu modo de escrita, né? Eu te disse, sou contraditório.
Não ligue. Nem tudo na vida precisa ter tanto sentido assim.
( Gustavo Lacombe )